A Sombra de Beckett é um monólogo escrito por Bruno Schiappa em 2010, revisto e aumentado em 2015, para um espectáculo encenado e interpretado pelo próprio de 12 a 28 de Junho de 2015 na Sala Estúdio do Teatro da Trindade.
Sinopse: Um homem encontra-se sozinho numa sala. Está cansado. Corre e tece considerações sobre a vida. Ao longo do monólogo vamos percebendo que se trata de um homem no fim do seu tempo de vida. Os vários fantasmas vão surgindo no seu discurso que é uma teia de pensamentos imbricados e suspensos numa não-lógica beckettiana. O amor desactivou-o. Não foi só o amor passional. Foi o amor parental. O amor pela razão. O amor pela vida. O amor por si. Nessa embarcação do amor foi-se perdendo e distanciando de si. Da sua essência. Nada nem ninguém o vai tornar a compreender. Nem sequer o próprio. O vício da lógica destruiu-o. A Não-lógica dá-lhe os últimos sopros de vida.
Nada nem ninguém lhe vai dar o amparo do último sopro? Não é bem assim. Um espectro ao qual apenas o próprio tem acesso assiste e assiste-o num jogo de esconde-esconde que apenas terminará quando o homem perceber de quem se trata.
É o 13.º Arcano do tarot.
Categoria – Drama
Autoria, Encenação e Interpretação – Bruno Schiappa
Bruno Schiappa tem vindo a desenvolver a sua actividade como solista, nos últimos anos, de modo mais constante e voluntário, procurando compreender o aspecto solitário do artista e o seu papel na vida através do seu percurso na arte de partilhar com o público os pensamentos e considerações que vai tecendo em privado. Numa primeira leitura, podemos pensar que se trata de uma actividade egocêntrica e inconsequente, mas não reside nessa simplificação o propósito artístico desta opção. Trata-se, sobretudo, de dar a ver um “olhar” particular, uma experiência que se torna visível perante o público. Aqui encontramos a vontade do dramaturgo encenador de si próprio que, tendo começado a integrar nos últimos anos a importância do espectador e da recessão, tem vontade de aprofundar essa relação dando a ver, não apenas a fábula transversal ao texto mas, também, como funciona o processo do ator. Como se estimula para determinada cena ou estado.
Bruno Schiappa dirigiu um workshop no Porto, no qual foi aberta ao público a última sessão para que este pudesse participar e compreender como se procede à formação do actor.
Neste sentido, durante a performance o actor fará, pelo menos, quatro interrupções durante as quais deve improvisar, referindo ao público que o resultado de cada um desses momentos não está a ser satisfatório para ele e mostrando como pode procurar estímulos cujo resultado se adeque melhor à performance. O actor irá, ainda, escolher outros quatro momentos, que poderão ou não coincidir com os anteriores, para fotografar reações do público. Antecipando o factor de estranheza que irá atingir o público, Bruno Schiappa optou por este texto que apresenta, também, uma homenagem a um dos dramaturgos que mais contribuiu para o teatro, no século XX, e que reconheceu a não-lógica no Ser Humano, sendo um dos criadores do movimento absurdista: Samuel Beckett. Cabe ainda neste espectáculo o que pode compreender o primeiro registo fotográfico do público, a partir do espaço de representação (cena) registando, não apenas a sua presença mas, também, o seu estado e reações, isto é, incluíndo-o como elemento (também) observado e não só observador.