Chamo-me Tânia Lucas, sou Engenheira do Ambiente, na área dos resíduos há cerca de 4 anos e tenho uma grande paixão por resíduos.Como é possível?Bem, é fácil. Primeiro, os resíd...
Chamo-me Tânia Lucas, sou Engenheira do Ambiente, na área dos resíduos há cerca de 4 anos e tenho uma grande paixão por resíduos.
Como é possível?
Bem, é fácil. Primeiro, os resíduos são uma fonte inesgotável de informação, numa empresa, os resíduos revelam muito sobre a sua atividade, os altos e baixos do negócio refletem-se nas quantidades e tipo de resíduos. Em termos sociais, o grau de desenvolvimento de um país pode ser diretamente avaliado pela qualidade do seu sistema de gestão de resíduos urbanos. Para além disso os resíduos podem ser substitutos válidos de certas de matérias primas, atingindo valores de mercado muito elevados (sabiam que alguns resíduos são cotados na bolsa de Londres?!).
E um dia, uma amiga ex-voluntária em S. Tomé falou-me do problema dos resíduos nesse pais e de repente, os meus olhos brilharam…
De repente, havia uma ilha africana, agradável e relativamente segura, mas sem sistemas de gestão de resíduos. E eu tinha 3 anos de experiência na resolução de problemas relacionados com o lixo, transformando algo incómodo numa matéria com verdadeiro valor económico, social e ambiental. Resultado, durante uma viagem de 40 minutos, desenhei um projeto, com base nos seguintes pressupostos:
- Os países em desenvolvimento produzem resíduos mas não dispõem das mesmas soluções que os países desenvolvidos;
- Ignorar este problema não faz com que desapareça, apenas o agrava;
- A ação das ONG’s deve ser baseada numa lógica win-win e não depender apenas de doações privadas;
- Os resíduos são uma oportunidade de negócio ainda por explorar em diversos sectores;
- Não existem dados de referência sobre a quantificação e caracterização dos resíduos produzidos nos países em desenvolvimento;
- Quem detém a informação detém vantagem estratégica no mundo empresarial;
- Esta pode ser uma oportunidade de expansão das empresas portuguesas em tempo de crise;
- O conhecimento adquirido com esta experiência poderá melhorar as minhas competências pessoais;
- O desenvolvimento económico deve ser um aliado do desenvolvimento humano.
Mas em que consiste realmente o meu projeto?
O meu projeto pretende ser inclusivo, onde os diversos sectores da sociedade pudessem trabalhar em conjunto de forma a que os objetivos de cada um contribuíssem para um bem comum – a qualidade de vida da população.
Desta forma, a minha ideia consiste em ir para o terreno recolher dados quantitativos e qualitativos sobre a produção de resíduos em São Tomé, compreendendo as dinâmicas específicas deste país.
No entanto, tenho a noção que ir sozinha, por minha conta e risco, para um país tão diferente do meu, era no mínimo, insensato. Por isso procurei uma ONG que me pudesse dar apoio no terreno.
Os dados recolhidos poderiam ter diversos fins, desde empresas relacionadas com os resíduos que quisessem investir conscientemente em São Tomé, até ao próprio governo local, como valiosa ferramenta de tomada de decisão na seleção de opções viáveis, passando por outras ONG’s (ONU, world bank, etc) com interesse em projetos de desenvolvimento em países semelhantes a São Tomé.
Por fim, colocar todas estas entidades em movimento, traria certamente proveitos para a população em termos de resolução de problemas relacionados com a recolha e tratamento de resíduos, com impacto direto na saúde pública e, eventualmente, na criação de emprego e desenvolvimento económico, potenciando desta forma o desenvolvimento humano que é, em ultima analise, o objetivo de todas as ONGD’s, fechando-se o ciclo.